sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"O Médico"

Consequência de uma pausa...


Como seria um médico perfeito, ou melhor, um bom médico para você?
Talvez não seja aquele que apenas medica, mas sim aquele que orienta, escuta, observa, distribui atenção e carinho, preocupa-se, doa seu tempo e seus pensamentos para que o melhor seja proporcionado ao próximo.
Romantismo da minha parte? Creio que estamos muito mal acostumados com os ruins, de forma que os bons não estão tendo a visibilidade e os devidos merecimentos. Existem inúmeros espalhados mundo afora, e eu tenho o maior prazer em ter contato com muitos professores bons médicos na minha faculdade, os quais sabem orientar e ensinar seus alunos os caminhos a serem seguidos para tornarem-se médicos humanos, e não médicos,  apenas. Vale ressaltar que eles ensinam, tentam, estão dispostos a isso, no entanto, nem todos os alunos estão dispostos a receber essas orientações e a levá-las à sua prática.
Médico qualquer um que se forma pode ser, mas ser médico, ser um médico humano, é diferente, nem todos têm esse dom, nem todos são capazes ou estão aptos a tratar o próximo como gente igual a ele, como um ser humano que está sofrendo, que precisa de apoio, de auxilio, de ajuda, que precisa de alguém ao seu lado. E mesmo que o melhor não possa ser feito, que não exista condições, garanto que o esforço e a força de vontade em levar saúde - psíquica e física - para as pessoas já valem o bastante para ser reconhecido como um bom médico.
Pergunto-me, às vezes, o que me levou a querer ser médica. Por enquanto acredito que seja por gostar de conviver, por gostar de gente, por gostar de ajudar os que precisam, por sentir prazer em um sorriso recebido após um ato por mais simples que seja. Hoje, por exemplo, tinha um seminário de microbiologia para ir, fiquei esperando o elevador, e assim que a porta abriu, duas senhoras de idade, uma de muleta, inclusive, apareceram a minha frente, dei um sorriso e um bom dia, e fui retribuída com outros sorrisos e bom dias, com carinho, elas sentiram-se a vontade para me perguntar onde poderiam fazer o exame de ultrassom. Acho que é por aí que um bom médico é formado, quando as pessoas se sentem a vontade com ele, pois vejo e tenho contato, diariamente, com pessoas que não se interessam pelo próximo, que são indiferentes à dor de quem está ao seu lado e mesmo assim estão cursando medicina. O que as trouxe aqui? Dinheiro e status são as primeiras palavras que me vêm à mente. Estudantes de medicina que acham ruim ter contato com gente, que reclamam das práticas médicas na comunidade que temos durante o curso inteiro, que não se dão "ao trabalho" de desejar um bom dia aos pacientes que cruzam nos corredores do prédio em que temos alguns seminários, não deveriam ser estudantes de medicina. Apesar de tudo, ainda tenho esperanças de que durante esse processo em que são simples estudantes possam amadurecer e repensar suas atitudes.
Um bom médico não se faz sozinho, um médico só se torna bom médico com a ajuda dos pacientes, é um trabalho construído aos poucos, a cada consulta e, principalmente, juntos. Não imagino como seja perder um paciente, mas creio ser muito doloroso. E como se portar diante de tal acontecimento? Nosso médico da obra de arte observa, expressa tristeza, dúvida, talvez aquela sensação inacreditável de impotência, de que quem comanda tudo ainda é Deus, compartilho minha ideia sobre isso assim que estiver ganho mais experiência...
O interessante é que o bom médico também é relativo, de acordo com cada paciente. Quem nunca foi à um médico por indicação de um amigo ou parente e saiu do consultório decepcionado porque não foi o que esperava? Isso acontece, não é porque é um bom médico para um que será para todos, assim como, não são todos que estão prontos a receber os cuidados de um médico, seja ele bom ou não.
O que é ser bom ou ruim? O que é normal ou anormal? São questões próprias a cada um de nós, com certeza, entretanto, educação, respeito e dedicação ao próximo devem ser constantes. Tornam não só o médico bom, e sim toda a humanidade boa. E, tudo o que é trabalhado em conjunto, em sintonia, com vontade de todas as partes, possui chances de dar mais resultados positivos, satisfatórios. Acho que falta um pouco de coragem por parte dos próprios pacientes, em dizer ao médico o que está achando da consulta, o que achou disso ou daquilo. Pois saibam, médico não é o Deus na Terra, médico é um instrumento de Deus, assim como qualquer outra pessoa, de qualquer que seja a profissão, ele pode estar errado. Ele também é humano e tem seus problemas, também precisa de alguém para auxiliá-lo, ouvi-lo. Então, se algum dia não estiver gostando da consulta, por que não ir aos poucos dando sinais de que algo está te incomodando, por que não desviar um pouco o foco daquilo que está te causando mal estar, por que não falar ao médico que ele está diferente, que você esperava isso e aquilo? Não são todos os médicos que estão dispostos a receber críticas de pacientes, embora eu pense que isso ajuda na construção da relação médico-paciente. Muitos deixam com que o status que a profissão ainda tem em meio a sociedade subam à sua cabeça, tornam-se arrogantes, prepotentes e "donos da verdade", o que é lastimável, visto que muitas pessoas estão deixando de receber os devidos cuidados, de ter uma boa relação com seu médico porque o mesmo acha que está acima de tudo e de todos, que não precisa melhorar em nada e que "quem não gostou que procure outro e vá se arrepender longe". Sinceramente, esses não são médicos, esses são pessoas que sabem a teoria e desconhecem a boa prática. E, para mim, é uma desculpa esfarrapada aqueles que dizem que não recebem incentivos para melhorar, que o "sistema" o faz agir de tal maneira, que a falta de um salário digno o deixa desestimulado...O.K., desestimula, porém, não a ponto de esquecer todos os princípios, de acreditar que os sofrimentos da pessoa a sua frente são menores que os seus.
Enfim, ser bom médico vai muito além de apenas cursar uma faculdade de medicina com boas notas, ser bom médico é uma construção ao longo do tempo, que depende não só do médico e também de todos os que o cercam, de sua criação, educação e caráter. Ser bom médico é um desafio. Desafio esse que merece ser aceito por todos os estudantes e solucionado com louvor. Rubem Alves tem minha admiração, ao menos como escritor e emissor de mensagens reflexivas e verdadeiras, que podem, inclusive, orientar estudantes que estão perdidos em meio a um mundo de conceitos tão deturpados quanto o nosso!