segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Um showzaço

Somos livres. Não estamos mais em época de ditadura e censura. Podemos usufruir da liberdade de expressão e do livre arbítrio, ao modo que bem entendermos. Certo? Não. Errado! Podemos usufruir desses direitos desde que a nossa liberdade não invada (palavra feia! rs) a liberdade ou o espaço do outro. Se você tem vizinhos próximos, mora em apartamento vai entender aonde quero chegar.

Você acaba de chegar da escola, da faculdade, do trabalho, enfim, da rua. Está morrendo de vontade de tomar um banho, comer, deitar, curtir a preguiça, estudar, ler, assistir TV, trabalhar um pouco mais, e para que isso possa acontecer é fundamental que o ambiente esteja silencioso, ou que apenas os pequenos barulhos, aqueles esperados do dia-a-dia se possam ouvir, ou ainda, que a sua ‘playlist’ prevaleça. Enfim, você precisa do seu espaço, do seu momento, único e especial.

No entanto...você começa a se concentrar e de repente ouve uma voz fanhosa, forçada, alta, e bem baixinho um som de fundo, um rádio ligado tocando a música original. Sim, é sua vizinha. Com certeza ela está se divertindo, achando que está arrasando e imaginando-se no palco de um maracanã lotado de fãs gritando seu nome. Mas não é verdade. Ela está dentro do apartamento dela, que por sinal é encostado ao seu, com as janelas todas abertas, para que aquele som (totalmente inoportuno, inapreciável, desgastante, horrendo) possa fluir livremente e chegar ao ouvido de cada um.

Então você para, pensa, respira profundamente e tenta se concentrar outra vez. Não dá. Agora ela está cantando um modão sertanejo da época dos seus avôs. Não que a música seja ruim, a interpretação da ‘cantora’ que é péssima. Você levanta, anda um pouco pela casa, muda o que estava fazendo, mas não consegue, a música penetrou pelos seus ouvidos, foi ao cérebro e não sai mais de lá. A vizinha continua no seu show particular, o qual você está tendo o prazer de ser um convidado vip.

Não, a tortura ainda não acabou e nesse momento você começa a crer que a censura deveria voltar. Sendo assim, você analisa as opções existentes:
  1. Interfonar ao porteiro e pedir para que ele se dirija à vizinha e peça para que ela abaixe o volume, educadamente;
  2. Aumentar o volume do meu som até que fique mais alto que o dela e começar a ‘guerra’;
  3. Eu mesmo interfonar ou ir até o apartamento dela e pedir, educadamente, para que abaixe o volume, ou até mesmo, inventar uma desculpa esfarrapada para que ela pare de cantar;
  4. Comprar tampões de ouvido, daqueles de operários, e isolar qualquer barulho externo;
  5. Acostumar por livre e espontânea pressão com aquela voz ‘macia, deliciosa, bela, divina...ai...ai...’ (aprecie e utilize-se da sua ironia...)
De qualquer maneira, se demorar muito a agir, logo a música entrará na sua cabeça de tal forma que você aderirá ao show da vizinha como um fã fanático e começará a também cantar, e, ainda gritar:
- Ei, aumenta o som aí!
- Vem aqui pra casa, vamos cantar no 'karaokê'!


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